Em termos de expressão, mylord, qual a diferença entre o alemão, o francês e o brasileiro?

É que o alemão pensa antes de falar ✦ o francês pensa enquanto fala ✦ e o brasileiro fala sem pensar. (Lord Jaeggy)

domingo, 9 de fevereiro de 2020

RONNIE LEU POR VOCÊ




as melhores novidades literárias de Ronaldo BUSCHETTA



Nos Estados Unidos da América, algo de muito estranho acontece. Durante uma maratona, na cidade de Halleluyah, um avião de passageiros sequestrado por cyber-terroristas espatifa-se na rua junto à linha de chegada. Cenas de horror, de morte, de confusão e de muito sangue como só americanos podem criar, mas que não impedem que a maratona continue e que tenha mesmo um vencedor, o texano Jimmy Cobreas. Em meio a grande tumulto e corpos carbonizados das vítimas do desastre, o pelotão de africanos que liderava a maratona contesta firmemente a vitória, alegando que Jim Cobreas estava no público e próximo à linha de chegada, e que foi considerado vencedor de forma trapaceada pelos organizadores. 

Em uma cidade próxima, Mellow Creek, semanas antes, com a ajuda de jovens internautas através de redes sociais, a polícia local conseguiu descobrir no subsolo de uma casa nada suspeita, doze mulheres e sete crianças de diversas idades vivendo em condições inumanas. Foi então que chegaram à conclusão que se tratava de pessoas que foram sequestradas há 18 anos atrás e dadas como desaparecidas ou mortas. A notícia se espalhou e, em meio a grande emoção mundial, os familiares das vítimas apontam Juan Areas Gontillo, um ex-médico panamenho aposentado como bombeiro hidráulico, como o responsável pelos seqüestros e estupros. Os policiais então iniciam uma verdadeira "caça ao homem", utilizando os meios mais avançados da criminologia durável e da informática de cultura biológica. Com ajuda da NASA, todos os indícios conduzem, finalmente, a um homem de nome James Earl Cobreas, um ex-professor texano aposentado como chofer de táxi. Ora, Cobreas é a mesma pessoa que oficialmente vencera a controvertida maratona de Halleluyah, sob os protestos dos atletas africanos que lideravam a prova. 

No outro lado do país, em Playa Dorada, uma menina sardenta surge em todas as manchetes dos noticiários. Trata-se de Mary Ann Simpson, de 11 anos, atingida por uma doença que os melhores especialistas não conseguem descobrir, e torna-se em poucos dias uma criança possuída pelo Mal, que caminha para a morte semeando destruição à sua volta, ao mesmo tempo em vai se apagando numa agonia atroz. A questão é que os pais de Mary Ann Simpson, junto com o médico que dizia ter descoberto a cura para ela, estavam no avião que havia sido sequestrado e lançado sobre a multidão na reta final da maratona de Halleluyah. E, infelizmente, todos estavam mortos.


O livro Das Duas, Quatro de Harold Pointer, é aclamado por todo o mundo, e considerado um dos maiores clássicos da literatura de ficção de todos os tempos e de todas as culturas. E, como era de se esperar, transformou-se em filme. E quem assiste o filme, lê o livro, ou pelo menos já ouviu falar de um dos dois, tem todas as condições para fazer uma excelente crítica do mundo atual, salvo, é claro, alguns poucos do contra que sempre vão criticar o livro ou o filme  mas isso é normal, vocês não acham?

O filme, pelo que ouvi falar, e por alguns trechos que vi no YouTube, é uma cópia fiel do livro, salvo uma ou outra cena, que na minha opinião, não seria necessário colocá-las. Falo das terríveis cenas de fratura exposta vistas no acidente, detalhes horripilantes nos corpos carbonizados, e aquela em que Mary Ann masturba-se de forma explícita diante da câmera de segurança de um shopping center. Constrangeram-me. Pelo visto, os roteiristas acharam o mesmo, mas terminaram se dobrando às exigências de Don Carreras, um dos produtores do filme. Muitos dizem que o filme é melhor que o livro mas, pelo que percebi no filme, assim que vemos Maximus, um dos terroristas que sequestrou o avião, logo se percebe que ele também está possuído por algum demônio, ou até mesmo pelo proprio Satanás, segundo Jay Ophreenbeck, um senador republicano entrevistado pela mídia. Para mim, isso fez o filme perder alguns pontos em comparação ao livro. 

O livro tem todo um suspense que prende o leitor da primeira à última linha. Toda a investigação, teorias de doenças mentais e afins, técnicas de como sequestrar um avião, dicas de como se ganhar uma maratona, pormenores íntimos da vida em cativeiro das dozes mulheres, tudo isso leva para que, só pertinho do final, todos aceitem a hipótese de um caso de possessão demoníaca. Ou não.

Uma das coisas que mais me chamou a atenção, foi a escrita, pois vejam bem, esse livro é de 2010 e, mesmo já existindo palavras asquerosas em sua leitura — não vou citá-las aqui pois o responsável por este blog proibiu-me expressamente de não fazê-lo — o modo como todo o resto do livro é escrito me encanta, possuindo todos os -lhes, os se, os -nos, enfim, todas as partículas adverbiais e afins. O Harold tem o total controle dos pontos soltos e da forma como o livro se desenvolve, é um verdadeiro mestre da literatura do nosso século. Realmente uma leitura intrigante e ótima de se fazer.

Como acontece em todos os livros de Harold Pointer — e com Das Duas, Quatro também não poderia ser diferente — há partes que são extremamente irritantes e de um tédio mortal, o que nos dá vontade de jogar o livro na parede, ou simplesmente avançar as páginas, ou utilizá-lo como papel higênico ou mata-môscas. No entanto, creio que o Harold percebia isso e colocava momentos importantes na história de vez em quando, para atrair a atenção do leitor. 

Quanto ao final…. bem, não vou contar para vocês, é lógico. Mas posso dizer que não aconteceu absolutamente nada do que eu tinha imaginado. Pior ainda, um fato transcorreu que me deixou decepcionadíssimo. Mas, tirando isso, não me arrependo nem por um segundo de ter lido Das Duas, Quatro de Harold Pointer, muito pelo contrário, eu o recomendo e, se você ainda não assistiu ao filme, leia o livro primeiro e depois o compare-o com o filme. 

Ou, se você for do contra, nem uma coisa nem outra.


Das Duas, Quatro de Harold Pointer, Companhia das Vírgulas, 542 páginas, R$ 44,00.


1 comentário:

  1. Apenas uma correção: o que você citou, não se trata de "partículas adverbiais" (sic) mas sim de casos de colocação pronominal (próclise, ênclise e mesóclise), aquilo que a gente aprendeu no ginásio, lembra?

    Saudações.

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